29 de dez. de 2010

BH em cores (ipês)

Fotos:Margareth

Boas leituras em 2011

Sebo Aluados- Cataguases -MG

23 de dez. de 2010

Ascânio Lopes


Ascânio Lopes Quatorzevoltas foi um dos principais nomes do modernismo dos Verdes na cidade de Cataguases. Sua morte prematura, aos 22 anos, selou o destino do poeta, transformando-o em um mito para os jovens que além de desancarem o academicismo e as velhas e bolorentas formas poéticas dos anos 20, ligaram para sempre a cidade à vanguarda internacional das artes.
È fácil perceber porque o jovem herói dos Verdes, apesar do tempo curto que teve, tornou-se um dos poetas mais expressivos do grupo, dialogando com Drummond, Mario de Andrade e outros do seu tempo, confirmando a vocação artística da sua cidade e deixando um legado breve e precioso às gerações posteriores.
Dizem as lendas que é possível perceber o seu vulto de poeta nas madrugadas quentes , perto de uma gigantesca palmeira imperial onde cantam os sabiás de todos os exílios, inclusive os da morte, que o levou ainda menino.

Cataguazes - Ascânio Lopes

   Para Carlos Drummond de Andrade

Nem Belo Horizonte, colcha de retalhos iguais,
cidade européia de ruas retas, árvores certas,
casas simétricas,
crepúsculos bonitos, sempre bonitos;
Nem Juiz de Fora. Ruído. Rumor.
Apitos. Klaxons.
Cidade inglesa de céu enfumaçado, cheio de chaminés negras;
Nem Ouro Preto, cidade morta,
Bruges sem Rodenbach,
onde estudantes passadistas continuam a tradição das coisas
                                                                  [que já esquecemos;

Nem Sabará, cidade relíquia,
onde não se pode tocar, para não desmanchar o passado
                                                                  [arrumadinho;
Nem Estrela do Sul, a sonhar com tesouros,
tesouros nos cascalhos extintos de seu rio barrento;
Nem Uberaba, nem, nem, cidades arrivistas de gente que no
                                                                  [pretende ficar:
Não! Cataguazes... Há coisa mais bela e serena oculta nos
                                                                  [teus flancos,
Nas tuas ruas brinca a inconsciência das cidades
que nunca foram, que não cuidam de ser.
Não sabes, não sei, ninguém compreenderá jamais o que
                                                                  [desejas, o que serás,
No és do passado, não és do futuro; não tens idade...
Só sei que és
a mais mineira cidade de Minas Gerais. . .
Nem geometria, nem estilo europeu, nem invasão americana
[de bangalôs derniecri.
                                                                 
Tuas casas são largas casas mineiras feitas na previsão de
                                                                  [muitos hóspedes.
Não há em ti o terror das cidades plantadas na mata virgem.
Nem o ramerrão dos bondes atrasados, cheios de gente
                                                                  [apressada.
Nem os dísticos de aqui esteve aqui aconteceu.
Nem o tintim áspero dos padeiros.
Nem a buzina incômoda dos tintureiros.
Teus leiteiros ainda levam o leite em burricos.
Os padeiros deixam o pão á janela (cidade mineira).
Teu amanhecer é suave.
Que alegria de só ter gente conhecida faz teu habitante
[voltar-se para cumprimentar todos que passam.
Delícia de não encontrar estrangeiros de olhar agudo esperto
                            [mau, a suspeitar riquezas nas terras.
Alegria dos fordes brincando (são dois) na praça.
(Depois vão dormir juntinhos numa só garagem).
Jacaré!
João Arara!
João Gostoso!
teus tipos populares.
A criançada atira-lhes pedras e eles se voltam imprecando.
Rondas alegres de meninas nas ruas, as tardes, sem perigo
                                                                  [de veículos,
papagaios que se embaraçam nos fios de luz, balões que sobem,
foguetes obrigatórios nas festas de chegada do chefe político.
Jardins onde meninas ariscas passeiam meia hora só antes
                                                                  [do cinema.
Ar momo e sensual de voluptuosidade gostosa que vibra
nas tuas tardes chuvosas, quando as goteiras pingam nos
                                                                  [passantes
e batem isócronas nos passeios furados.
Há em ti a delícia da vida que passa porque vale a pena passar,
que passa sem dar por isso, sem supor que se vai transformando.
Em ti se dorme tranquilo sem guardas-noturnos.
Mas com o cricri dos grilos,
o ranram dos sapos,
o sono é tranquilo como o de urna criança de colo,
Vale a pena viver em ti.
Nem inquietude,
nem peso inútil de recordações
Mas a confiança que nasce das coisas que não mudam bruscas,
nem ficam eternas.

                            Poemas Cronológicos — "Verde" Editora — 1928
                            — Cataguases — págs. sem numeração.

15 de dez. de 2010

Portinari
1000 CDs de primeiríssima qualidade que resumem bem a música dos últimos 100 anos:
http://www.radio3net.ro/dbalbums/albume1001
 1- Ao colocar a seta do mouse no nome do CD, a capa do disco aparece.
2 - Clicando no nome do disco, aparece a relação
das faixas que podem ser ouvidas.
3 - Clicando na bolinha branca e preta, do lado direito do nome da faixa, aparece uma nova janela com a letra da música.

11 de dez. de 2010

Caminho do rio

Rio Pomba - Cataguases- MG


MANOEL DE BARROS

Matisse
Uma Didática da Invenção
I
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com
faca
b) 0 modo como as violetas preparam o dia
para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas
vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência
num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega
mais ternura que um rio que flui entre 2
lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
Etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
 


IV
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para
Dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras

IX

Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz.

Hoje eu desenho o cheiro das árvores.


IX

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
 

29 de nov. de 2010

Território: A força militar superior permite ao Estado comemorar hoje a tomada do Complexo do Alemão e  seus amontoados 400 mil habitantes respiram o cessar fogo e um suposto reingresso à cidadania plena como brasileiros, depois de décadas de comando do tráfico sobre a comunidade. No labirinto de barracos, o território, ou seja, “o chão mais a identidade”(Milton Santos, 1999) está marcado pelo trauma da guerra e das muitas mortes, pela descrença generalizada nas promessas dos governos, pela violência cotidiana.que faz a vida ter tão pouca perspectiva. 
"existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e covardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto." (Castro Alves- Navio Negreiro)

26 de nov. de 2010

Salve Geral - Rio 2010

(Foto: FSP)
 A guerra  explode o limite tênue entre as duas cidade e mostra as suas armas sem metafísica.
Civis são galinhas correndo desgovernadas  das balas perdidas. No morro, os meninos bandidos são heróis eviesados de uma nação de pobres, feios, sujos e malvados. Estão armados e despejam balas defendendo com seus corpos a satisfação da burguesia entediada que busca na droga o prazer difícil em sua vidas repetidas e cheias de hipócrita normalidade.
Tiros de fuzil desenham nos barracos a escrita deste outro Canudos. No latifúndio da mídia, o furor repressivo não é explicado como uma política dura antes dos mega eventos internacionais tipo copa do mundo, legitimada pelas últimas eleições. Pacificação, um  eufemismo.
A polícia mais mal falada do país é o braço armado do governador para fazer o mal de uma vez só, ajudado pelas armas de guerra da Nação bestializada. E a ordem é deitar fogo contra as cidadelas do tráfico, os barracos de muitos no meio, enquanto os soldados de um exército de jovens que foram entregues ao vício e ao crime  pela insana razão de estado de considerar a droga um problema da polícia e não do usuário, morrem estupidamente. O próprio Estado promove essa situação absurda de guerra urbana motivada pela criminalização da droga que gera o tráfico de drogas, o mal . E o tráfico de armas, subproduto indesejável e lucrativo. 
Os verdadeiros responsáveis pela tragédia legitimada pelos votos e executada com o dinheiro do contribuinte, refestelam-se longe dos morros como sempre. Promovem a proibição e a ideologia da droga que alimenta o conflito sangrento que acontece no Rio. Negociam os novos pontos de distribuição na cidade que substituirão as áreas "pacificadas" nos próximos anos. Votam por mais verbas para armas  nos orçamentos públicos com a mesma desfaçatez que exibem manifestos pela paz.


12 de nov. de 2010

Domingo solar. Mantiquieira lá fora e no rádio do carro a canção original, com Bob Dylan . Jogo de espelhos, poesia e mundo  imenso. Foi o domingo, ficou a memória que caiu aqui com a gravidade  da música. Versão mais clássica que a original. Gal Costa, a intérprete definitiva.

Negro Amor (It's All Over Now, Baby Blue)

Composição: Bob Dylan / Versão Péricles Cavalcante e Caetano Veloso
Artigo de minha autoria publicado na RevLet, da UFG

 CLARICE LISPECTOR E OS INTELECTUAIS NO ESTADO NOVO
Margareth Cordeiro Franklin
 

RESUMO: Este trabalho pretende refletir sobre os primeiros anos da trajetória literária da escritora Clarice Lispector (1939-1945). No contexto internacional são anos da Segunda Guerra e no Brasil, do regime ditatorial instaurado por Getúlio Vargas, o Estado Novo. Tal período não foi marcante apenas para nossa história política, social ou econômica, mas principalmente para uma história dos intelectuais, pois o esforço para diluir as diferenças entre os homens de letras e os políticos tornou-se objetivo do governo que soube acolher,
amparar e principalmente utilizar os diferentes graus de compromissos mantidos por artistas e intelectuais com o regime. Acompanhando o percurso da jovem Clarice Lispector pode-se compreender porque seu primeiro romance foi considerado diferente do que se fazia então e ela consagrou-se posteriormente como um dos mais importantes nomes da literatura brasileira.

LEIA MAIS:

http://revistas.jatai.ufg.br/index.php/revlet/issue/current

2 de nov. de 2010

Mario de Andrade

Eu Sou Trezentos...

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.

24 de out. de 2010

MILITÂNCIA

As coisas se complicaram num segundo turno difícil de engolir para os caciques petistas que julgavam sua tática eleitoral impecável. A aliança com o PMDB, a candidatura com Hélio Costa, as chatas e intermináveis disputas internas no PT, a prévia mal feita e mal amada entre Patrus e Pimentel quando nós já sabíamos de fato que o negócio era a aliança com o PMDB mineiro. E principalmente a relação com o governador Aécio Neves.
Os Movimentos Sociais não entram nessa contabilidade antiquada da direção petista. Faz tempo que as forças da sociedade são “café pequeno” no alto jogo político feito ainda sob a influência na mentalidade de um tempo em que a elite conservadora se dividia em UDN e PSD. Aécio Neves, o adversário dos sonhos dos petistas brasileiros, pessedista redivivo, sempre teve na oposição vacilante da bancada de deputados petistas um aliado poderoso ao seu governo. Então com uma imprensa totalmente controlada e o poder de uma hegemonia absurda no legislativo, fez e desfez, déspota falsamente esclarecido elegendo seu filósofo de plantão, Anastasia, e manipulando os cordões da marionete sempre disponível, Itamar Franco. 
Hélio Costa e Pimentel não foram eleitos. Dilma foi para o segundo turno. Bela tática...
Então, como isso foi possível? Como chegamos, de novo, ao limite do empate com as forças conservadoras, os caciques estaduais, os velhos coronéis de sempre? Como perdemos o charme da ideologia libertária para cairmos na sedução da política como espetáculo? Tanto foi feito no Brasil do governo Lula e por que um velho lustre aceso numa longínqua casa grande ainda domina a escolha das pessoas através do aparelho de TV?
O jogo ficou muito tenso e devo dizer que ao longo desses anos todos, essa foi a hora mais decisiva vivida na política brasileira. A possibilidade de voltar ao poder assanhou os conservadores e forçou uma guinada idem no discurso de Dilma, que foi à Aparecida, rezou, negou o aborto e ficou acuada sob ataques ao governo.
Todos sentimos juntos o vapor sórdido da onda de mentiras, calúnias, dissimulações, e a aplicação obstinada do discurso fascista de moral, vida privada, controle, criminalização. A coisa atingiu, para mim, seu limite quando José Serra referiu-se ao MST como caso de polícia e de novo a ameaça pesou feio sobre tudo que foi construído esses anos todos no Brasil dos esquecidos.
Nessa  hora tensa, como em todas as horas tensas que vivemos antes, a militância saiu em cena e promoveu o verdadeiro espetáculo da política: o das multidões em movimento. Aconteceu com a carreata marcada para a Pça do Papa, em BH. Lula e Dilma animaram uma gigantesca caravana que parou a cidade. Ao fim do seu discurso, tive a chance de ver de perto o Presidente Lula e ele chorava, emocionado.
As ruas cobertas de bandeiras, os sorrisos largos, a felicidade pública transbordando e as lágrimas do presidente, grande artista dessa obra, podem dizer daquele instante exato em que simbolicamente as forças dos que lutam a vida inteira e são por isso, imprescindíveis, pesam decisivamente. Os militantes, eles existem. 
Depois desse dia as pesquisas trouxeram algum alívio e agora, nesta reta final de campanha, a palavra de ordem deve ser uma só: desliguem a TV e vamos prá rua. Mesmo que a rua seja uma cyberrua repleta de endereços eletrônicos. A internet é do povo, como o céu é do gavião!!!

22 de out. de 2010

O Beijo no Asfalto

Que a humanidade vença o embate contra os ciborgs do capitalismo totalitário. O beijo, um protesto contra a aprovação da reforma da previdência na França, empresta a luz da delicadeza contra o sombrio dos soldados. Na pátria dos direitos, a retirada dos direitos dos trabalhadores não ficou sem respostas e a luta prossegue nessa verdadeira barricada do desejo... (foto: Folha São Paulo 22/10)

19 de out. de 2010

Situação dos moradores 
Torres Gêmeas BH - Outubro 2010 - Raquel Rolnik
VEJAM: http://www.youtube.com/watch?v=_ccw1d8jud8

16 de out. de 2010


O debate sobre o aborto nas eleições de 2010.
Por Margareth Cordeiro Franklin (Professora  de história do CEFET MG)

A desfaçatez da elite brasileira é a sua maior marca registrada e principal prova de que estamos lidando com os mais ferozes donos do poder do mundo. Assim tem sido ao longo da história e no caso do debate absurdo travado sobre o aborto neste segundo turno das eleições presidenciais. É lamentável que a defesa da vida seja tão contundente apenas para os que ainda não nasceram, enquanto na vida real milhões de crianças e jovens perdem a vida todos os anos por causas violentas. De morte morrida no trânsito ou matada no crime, no confronto com policiais, com facções rivais ou podres de crack, álcool ou outras drogas.
Homens bons, cordiais, senhoras bem vestidas, mães de família, religiosos humanistas e bem intencionados. Todos são cordiais e de bem,  mas fecham os olhos à matança de mulheres pobres, abandonadas, sem fé, sem lei e sem rei no Brasil mestiço, desavergonhado, dissimulado, bestial e machista ao extremo. Ninguém fala da mulher? Da permanência histórica das suas dores e horrores? Na sua responsabilidade moral e física pelo ato do aborto e da dor exposta publicamente ainda ser crime e condenação? 
As mulheres são os lados fraco e forte nessas eleições. As feras cinocéfalas rugem contra as chances de uma mulher chegar à presidência. A mídia deixa cair sua máscara de imparcialidade e se entrega inteira, meretriz das benesses de um tempo de névoas. E inventa livremente a pauta política nas falas cretinas dos editores em uma nação que se divide de novo em personagens machadianos, no teatro de acontecimentos que vão definir nosso destino político daqui a poucos dias.
A mídia manda e o aborto vira assunto prioritário a assanhar os partidários do atraso e da ignorância O comportamento da grande imprensa orienta um debate manipulador valendo-se de palavras e sentidos. O absurdo debate  hipócrita torna-se o centro de uma disputa entre os dois brasis: o real, que vive o seu cotidiano e experimenta a navegação em águas prósperas dos últimos 8 anos de Lula na presidência e seus 90% de aprovação ao final do governo, e o virtual, inventado pelo poder da Mídia. O quarto poder entra em cena e sem vergonha constrói uma rede de intrigas para  seduzir os eleitores e destruir o voto livre, tão duramente conquistado pela República.
O eleitor se perde entre os discursos religiosos e morais que consideram o  aborto um crime contra a vida. Porém, não percebem que esse debate esconde uma monumental negação à própria Constituição Brasileira, que não admite pena de morte. Quando uma mulher faz aborto sem atendimento médico ela é na prática condenada à morte pela postura moral desses mesmos discursos cheios de boas intenções como o inferno.
Por outro lado, ninguém fala da ausência evidente do homem nesse debate. Onde está a metade masculina responsável pelo aborto? Embriões não são gerados só por mulheres... Nada acontece legalmente com um homem que induz ao aborto? Sequer é lembrado? Como disse o melhor tradutor do espírito dissimulado da elite brasileira, Machado de Assis, no caso do aborto em debate “ a mentira é muitas vezes tão involuntária como a respiração.”

12 de out. de 2010

Mídia Gambiarra

 A democracia brasileira expõe através da sua mídia mais poderosa a permanência de uma tradição autoritária comandada pela elite mais conservadora do mundo. Nessas eleições, o posicionamente desavergonhado da grande imprensa em favor do candidato tucano incluiu seduzir, mentir, omitir, demitir, perseguir, ferir, excluir. 
Esse arremedo de quarto poder do Estado revela sua verdadeira face: a gambiarra de liberdade que ata a imprensa ao jogo dos  interesses que comandam as nossas vidas.


Gambiarras: Cao Guimarães

3 de out. de 2010

Eleição em manhã de névoas. A mídia se une para gritar pelo segundo turno. O povo, de novo, assiste bestializado o resultado ser construído segundo o previsível cálculo da política  como espetáculo.
Os cidadãos continuam emprestando a sua bandeira para  uma cena com incertos protagonistas.

1 de out. de 2010

Às vésperas da eleição geral que abala o país ou entedia os telespectadores com a política reduzida à plástica do marketing eleitoral, a polícia republicana baixa o porrete nos sem- casas acampados na porta da Prefeitura de BH, governada por um sujeito que recebeu as chaves da cidade das mãos do PT. Feio demais. Movimentos sociais no Brasil continuam sendo caso de polícia, como sempre foi... Nossas esperanças se renovam na resistência do povo das ocupações Dandara, Camilo Torres, Irmã Doroty e Duas Torres. Pátria Livre. Venceremos!!

24 de set. de 2010



DADAíSTAS em 1921 Jean Crotti, ?, André Breton, Jacques Rigault,  Paul Eluard, Ribemont-Dessaignes, Benjamin Péret, Théodore Fraenkel ,Louis Aragon, Tristan Tzara, Philippe  Soupault.
A votação no Supremo sobre a lei da Ficha Limpa está empatada. A divisão envergonha a Nação que quer ver valer a Justiça contra criminosos notórios  se beneficiando de um casuísmo legal..
Que vergonha esse empate! Mas que clareza  de leitura  permite ao revelar os verdadeiros compromissos de parte do Supremo com interesses e candidaturas.
Ao agarrar-se a uma redação capciosa para livrar a cara de bandidos, esses ministros mostram à opinião pública de que lado estão. A favor dos saqueadores oficiais da República e contra a vontade soberana dos que defendem a ética e a dignidade na política.
Quem sabe não inventamos um pedido de impeachmant para os ministros do Supremo?

12 de set. de 2010

existe a música que sopra os segredos do mundo
e agradeço ouvi-la
todos os dias para os lados onde o sol nasce
Espero nas multidões que invocam
 e sei que a espera é a mesma
mas são esses os que têm o destino
de ouvir a música e ela guiá-los
em contra fortes de serra
ou rodamunhos de água
na lida diária do mar da vida.


11 de set. de 2010

 (Pollock)

" Pero Vaz na sua camara recostado com o cotovelo no coxim e o rosto na palma da mão, ideava o escrever uma carta a seu rei.Tudo estava em socêgo – só se ouvia o sussurrar da água chapinhando nos costados da capitania – o ranger dos apparelhos nos moitões e quadernaes em virtude do balouçar da nau – o bocejar das vigias nos chapiteus de ré e d’avante que se conservavam sobre rolda – e os passos cadenciados do official de quarto que, andando pela tolda, e pensando na futura sorte daquella navegação, admirava o estrelado firmamento do Novo-mundo, que reflectindo-se no mar deixava a frota entre dois mantos azues recamados de perolas e bordados de lantejoulas. E a briza suave refrescava o ar afogueado pelo ardor do sol durante o dia, e trazia bafagens terrais prenhes de balsâmicos perfumes."
( Chronica do descubrimento do Brazil - (Francisco Adolfo de Varnhagen - 1840)   Arquivo Nacional Torre do Tombo em Portugal:http://antt.dgarq.gov.pt/

3 de set. de 2010

Da janela lateral

Como no caso do Zé Celso, que foi impedido de apresentar em praça pública seu espetáculo, todos estamos acompanhando como a indigência cultural aumentou nos últimos anos em Minas e principalmente em BH. Até eventos já consagrados na agenda cultural da cidade, como o FIT, por pouco não acontecem ou acontecem precariamente.
Mas os de sempre , os que se beneficiam das leis de incentivo à cultura mesmo já sendo consagrados, os que têm veiculação garantida de seu trabalho nos veículos oficiais de comunicação, os que têm garantido o cachê nos espetáculos oficiais, esses continuam se dando bem. Por isso eles estão emprestando sem pudor o nome e a cara para a dupla jeca Anastasia-Aécio continuar no poder.
O velho Clube que já se perdeu há muito na esquina das rimas fáceis e melodias repetitivas, ou os "modernos" roqueiros que no máximo regravam Roberto Carlos, estão no programa eleitoral dos candidatos oficiais. Ê, Minas...
Contra o conservadorismo das elites mineiras, tão presente hoje no arranjo oligárquico que nos tira a opção de votarmos para o governo do Estado, também disparou o magnífico e quase desconhecido escritor mineiro , Lúcio Cardoso:

“Meu inimigo é Minas Gerais.
O punhal que eu levanto, com a aprovação ou não de quem quer que seja é contra Minas Gerais. Que me entendam bem: contra a família mineira. Contra a literatura mineira. Contra o jesuitismo mineiro. Contra a religião mineira. Contra a concepção de vida mineira. Contra a fábula mineira. Contra o espírito judaico e bancário que assola Minas Gerais. Enfim, contra Minas, na sua carne e no seu espírito.” LÚCIO CARDOSO (1913-1968)

28 de ago. de 2010

13 de ago. de 2010

                                                                               (Faiga Ostrower)
"Assim como uma pedra jogada na água torna-se centro e causa de muitos círculos, e o som se difunde no ar em círculos crescentes, assim também qualquer objeto que for colocado na atmosfera luminosa propaga-se em círculos e preenche os espaços em sua volta com infinitas imagens de si, reaparecendo em cada uma de suas múltiplas partes" (Leonardo da Vinci apud Faiga Ostrower)
                                                                                                  (Leonardo- 1508)

9 de ago. de 2010


                                                                                                 (K. Malevich)

A EDUCAÇÃO PELA PEDRA
Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, freqüentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições de pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.

(João Cabral de Melo Neto)

6 de ago. de 2010

Viver com medo é morrer duas vezes
A violência à mulher
MARGARETH C. FRANKLIN
Publicado em 05/08/2010 - Jornal O Tempo

Mais uma notícia nos jornais sobre o bárbaro assassinato de uma mulher na região metropolitana de Belo Horizonte pelo ex-marido, desta vez a golpes de machadinha e na frente dos filhos pequenos, produz dor e revolta em todos os que não aceitam viver com medo.
Viver com medo é morrer duas vezes!
Penso isso em relação à nossa impotência frente aos maníacos estupradores e aos ex-maridos e namorados violentos e infantis a descontar no corpo da mulher que viveu com eles o poder ferido e mal resolvido de um suposto macho dominante.
Também ficamos paralisados frente às manchetes cotidianas de violência brutal, às pilhas de boletins de ocorrência sobre agressões e ameaças nas delegacias de polícia, às lágrimas salgadas dos rompimentos, às grosserias e pequenas baixezas domésticas nossas de cada dia, amém.
É preciso não acreditar que bastam a ação da polícia e o bombardeio da mídia para impedir o crescimento da vio lência contra a mulher.
Como num espelho, uma sociedade dominada pelo prazer sádico de assistir a espetáculos horríveis como o trágico episódio do goleiro do Flamengo reproduz os incontáveis gestos de violência e transforma em audiência a exploração exaustiva da imagem de uma mulher sendo devorada por cães depois de ter sido espancada até a morte.
O impressionante gol contra si mesmo do tal Bruno, ele próprio um cinocéfalo (aquela figura mitológica com corpo humano e cabeça de cachorro), estimula apetites sinistros dos que, como ele, sentem-se possuídos pelo desejo de poder e controle sobre os mais fracos, sejam eles mulheres, crianças, pobres ou excluídos em geral.
A violência brutal contra uma mulher, seja ela bruxa ou fada, prostituta ou freira, celebridade ou anônima, acaba por fragilizar e atingir nós todas, sem exceção. Mas também nos atingem e violam nossos direitos todas as formas de violência silenciosa cometid as contra as mulheres no interior das casas, nos locais de trabalho e no espaço privado dos relacionamentos entre os sexos. Dizendo de outra forma, é o reconhecimento das tensões existentes nas diversas formas de dominação e subalternidade que coloca em evidência a necessidade de as próprias mulheres se articularem e exigirem respeito.

Sabemos que o que mais funciona é o salve geral, o alerta à comunidade, a religação entre todos numa ampla rede de proteção para enfrentar o medo e superar o sofrimento paralisante pela energia da indignação.
Todas somos partes de uma ampla corrente contra a violência em geral, mas especialmente somos contrárias a que é dirigida às mulheres enquanto gênero, pois essa revela a degeneração da nossa própria condição humana.
Munidas de nossos recursos conjuntos (que certamente não são poucos), somos milhões de mulheres a defender nossa dignidade e a exigir justiça. E devemos gritar não ao mal banalizado que cresce e desafia o que chamamos civilização.

17 de jul. de 2010

No mínimo, cidadania...

BRASIL: Aqui, o gráfico sobre a linha da miséria, levantado pela FGV-RJ em cima de indicadores do IBGE.

9 de jul. de 2010

Minha Boêmia
(Fantasia)

Arthur Rimbaud

Lá ia eu, de mãos nos bolsos descosidos;
Meu paletó também tornava-se ideal;
Sob o céu, Musa! Eu fui teu súdito leal;
Puxa vida! A sonhar amores destemidos!


O meu único par de calças tinha furos.
- Pequeno Polegar do sonho ao meu redor
Rimas espalho. Albergo-me à Ursa Maior.
- Os meus astros nos céus rangem frêmitos puros.


Sentado, eu os ouvia, à beira do caminho,
Nas noites de setembro, onde senti tal vinho
O orvalho a rorejar-me as fronte em comoção;

Onde, rimando em meio à imensidões fantásticas,
Eu tomava, qual lira, as botinas elásticas
E tangia um dos pés junto ao meu coração!

Um poeta no exílio

Concluo a leitura de Rimbaud na África, de Charles Nicholl. Trata-se de biografia (bastante) ficionalizada do poeta francês que se auto-exilou da literatura e da boemia européia, no fim do século XIX, para ser negociante no Chifre da África.
Modernista de vanguarda , em linha direta com Baudelaire, Rimbaud escreveu durante a adolescência: dos 15 aos 21 anos legou à poesia uma obra ímpar e grandiosa que influenciou gerações de artistas posteriores, especialmente os poetas beats e rockeiros que se inspiraram nos seus versos ácidos, irreverentes e irônicos.
O poeta maldito que amava viajar ou como ele mesmo disse, que "tinha asas nos pés", exilado da literatura, buscou na África récem partilhada pelas grandes potências européias um escape, tornando-se mercador, traficante de armas, talvez de escravos, arabista, beduíno, habitante dos imensos desertos que ofereceram sua paisagem inóspita para que ele pudesse acomodar melhor os vazios de sua alma . Os versos trocados por prosaicos cadernos de haveres e deveres aparecem muito pouco no livro.O autor preocupado em recriar e/ou  inventar acontecimentos  para os  itinerários  do viajante, busca no que pode obter dos cadernos de mercador e das cartas aos amigos e familiares, algumas pistas para preencher os enigmas dos anos africanos de Rimbaud. Mas mesmo exilada a poesia salta de repente de uma descrição prosaica  como o cheiro do café ou de cidades de nomes mágicos.
A leitura é muito agradável e o personagem principal ,  polêmico e políticamente incorreto, é fascinante....

5 de jul. de 2010

18 de jun. de 2010

"Sertão. O senhor sabe : sertão ‘onde manda quem é forte , com as astúcias ."
  Adeus, Mata Seca
  Deputados de Minas autorizaram a destruição do que resta de Mata Seca.

O conto da ilha desconhecida- José Saramago

(...)Tinha-lhe desejado felizes sonhos, mas foi ele quem levou toda a noite a sonhar. Sonhou que a sua caravela ia no mar alto, com as três velas triangulares gloriosamente enfunadas, abrindo caminho sobre as ondas, enquanto ele manejava a roda do leme e a tripulação descansava à sombra. Não percebia como podiam ali estar os marinheiros que no porto e na cidade se tinham recusado a embarcar com ele para ir à procura da ilha desconhecida, provavelmente arrependeram-se da grosseira ironia com que o haviam tratado.



Adeus, Saramago
O mundo hoje ficou mais pobre.
Nós ficamos mais sozinhos, mais cegos, mais ofuscados pela imensa claridade artificial do que construímos à imagem e semelhança com o que temos de pior... 



6 de jun. de 2010


Chopin que amava George Sand e eram amados por Delacroix, Baudelaire, Lizt e tantos outros modernos em 1840...

Noturno Op. 9
















5 de jun. de 2010

Na rua, contra a guerra

Publiquei esse artigo no jornal O Tempo em 10/01/2009.  Na ocasião Israel chocava o mundo com a ofensiva de guerra contra Gaza. Hoje vejo que em todas as cidades brasileiras onde ocorrem manifestações contra o ataque aos barcos de ajuda humanitária uma suástica foi incluída na bandeira de Israel...


Uma suástica sobre a estrela da bandeira de Israel.

Margareth Cordeiro Franklin*

Nós brindamos o ano novo enquanto os terroristas do Estado de Israel espalhavam mísseis sobre os civis de Gaza. O terror dos bombardeios via satélite, as crianças despedaçadas estampadas nos jornais, o sangue lavado nas ruas pelos jatos de água dos caminhões, são imagens que desmentem qualquer possibilidade de justificar ações que podem ser consideradas exemplares do terrorismo de Estado.
No Ocidente, as tímidas manifestações de censura à barbárie por parte dos governantes dos diversos países e da ONU não são fortes o bastante para deter o desejo sádico de quem quer exibir a força das armas porque sabe que jamais terá a força da liderança verdadeira sobre os povos cujas terras foram pilhadas. No Oriente, crescem e radicalizam os clamores contra a guerra, ameaçando a generalização do conflito e a paz mundial. O terrorismo de Estado, como qualquer forma de terrorismo e de poder fundado sobre a força opressiva das armas, rasga os direitos humanos e pisa na nossa humanidade, jogando por terra tudo que imaginamos precioso como engenho da civilização.
O Estado de Israel foi fruto também das negociações espúrias dos ricos judeus e seus poderosos rabinos com os comandos nazistas, a quem cabiam decidir quem ia fugir nos trens que atravessavam a Europa em direção à terra prometida, que eles conseguiam alcançar à custa de uma passagem comprada por milhões de vidas de outros judeus que ficaram nos campos de concentração. Os trens os levavam até os territórios da Palestina, então colônia da Inglaterra, que sacramentou a grilagem. A herança nazista foi incorporada pelos que expulsaram os palestinos de suas terras e os espremeram em Gaza, Cisjordânia e outros novos campos de concentração criados ante os olhos de todos, perplexos ao ver as antigas vítimas tornarem-se os novos algozes de um povo inteiro.
Símbolos do espírito e particularmente do conflito entre as forças da luz e das trevas, as estrelas, tanto para os cristãos quanto para o judaísmo obedecem às vontades de Deus e as anunciam. A estrela de seis pontas, símbolo do judaísmo, simboliza o encontro entre a matéria e o espírito, os princípios ativo e passivo, a evolução e a involução.
Desrespeitando as antigas e as novas leis, para serem coerentes com tanto desprezo por nossa condição humana, os israelenses e seus governantes deviam pintar uma suástica nazista sobre a estrela azul da sua bandeira.

all you need is love



Israel (de novo) deixa o mundo em susto
enquanto atira contra os barcos  dos jovens ativistas turcos.
Trinta tiros, tantos, em cada corpo.

Querem impedir a ajuda humanitária de chegar
ao campo de concentração de Gaza.

Agora cercam e ameaçam um outro barco
e todos os que tememos a suástica
inscrita com sangue na bandeira azul e branca
ficamos pequenos, impotentes, navegando junto
com os irlandeses as águas de chumbo
da intolerância.

Nossos ouvidos fechados
aos ruídos do mundo que se despedaça
agarram-se às velhas canções
para não ouvirmos mais os gemidos,
os gritos, os  acordes da violência brutal
a que nos submetem outra vez em nome das nações.

Imaginando, levaremos a Gaza nosso barco 
e haveremos de fazer soar as trombetas
que derrubarão as muralhas e os canhões.
Cantaremos juntos entre cadáveres e cápsulas de balas.
Nas ruas, contra a guerra...


Rachel Corrie deu o nome ao barco irlandês que enfrenta sozinho a fúria israelense. Ela era uma ativista dos direitos humanos que morreu lutando em Gaza em 2003. Para ela e para todas as vítimas desse insuportável e interminável genocídio essa canção, a mais perfeita tradução do desejo palestino e de todos os que querem paz...
all you need is love