30 de abr. de 2010
KANNTAH NNAYWEBCKNN
Depois da névoa da tarde Willian Turner
eu olho o velho navio.
No longo dorso desbotado,
as marcas das esporas cossacas
mancham o negro da pele:
digitais dos sete mares,
desenhos de lascas de gelo,
feridas dos portos.
Na praça a estátua do ditador
com as mãos eternamente às costas
olha sem ver a alma russa atormentada
pelas lembranças das tempestades,
enquanto os pardais fazem ninho
na feia cabeça de bronze.
O impronunciável barco remexe com seu casco
o lodo do fundo da baía
e suas chaminés rastreiam o ar dourado
contando histórias perdidas
de mulheres gigantes em planícies geladas,
histórias de sonhos e coragem
que ficaram ocultas
em cidades de papel
à espera das escavações que descobrissem
um novo sentido aos signos.
( Margareth Franklin in Terra, 1998. BH, Por Ora Editora)
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