Tragédia: a nova cara do verão
Essa é a época das tragédias como opresença obrigatória em sucessivos verões. Katrinas, terremotos, tsunamis, enchentes e secas são transformados no assunto principal da estação. A natureza responde à altura todo o descaso sofrido e, na versão possível da profecia Maia, a época da sua vitória sobre a cultura parece estar se aproximando.
Dois outros profetas já haviam previsto esses acontecimentos: Karl Marx, nos idos do século XIX, afirmou que o fim do capitalismo só seria possível por suas próprias contradições. De fato, o desenvolvimento desordenado das chamadas forças produtivas, da ciência e da técnica, mudaram a cultura. Separados da natureza, nossa vida se fundamenta no consumo dos seus recursos. A civilização que construímos está assentada na satisfação de necessidades cada vez mais inventadas e egoístas, alimentadas pelas possibilidades infinitas oferecidas pelo capital que desse círculo se alimenta e se reproduz.
Sabemos que o conceito de desenvolvimento sustentável foi pensado para tentar equilibrar e potencializar o uso dos recursos numa lógica fundada na preservação e proteção do meio ambiente. Mas isso está longe de deixar de ser apenas uma idéia e virar prática.
As conseqüências da ocupação predadora e desordenada do mundo têm produzido os graves problemas ambientais que vivemos e suas seqüelas. A fúria do clima é uma delas. Pode ser que a destruição do capital custe a civilização que construiu, movimento autofágico que explica bem as guerras, violência, pobreza e outros males sem fim que sempre existiram ao longo do seu domínio.
As conseqüências da ocupação predadora e desordenada do mundo têm produzido os graves problemas ambientais que vivemos e suas seqüelas. A fúria do clima é uma delas. Pode ser que a destruição do capital custe a civilização que construiu, movimento autofágico que explica bem as guerras, violência, pobreza e outros males sem fim que sempre existiram ao longo do seu domínio.
Até agora a noção arrogante que passamos, nós, os conscientes ambientais, é a de que é preciso salvar o planeta. Mas o planeta não precisa ser salvo. Quem precisa perceber a destruição são os humanos, vulneráveis a ela. O que existe e continuará existindo é o planeta, pois é imune ao tempo. Uma era não significa nada, quanto mais um ano ou cem.
Isso nos remete ao poeta e profeta Raul Seixas: “o planeta como um cachorro eu vejo: se ele não agüenta mais as pulgas, se livra delas num sacolejo”.
Difícil falar neste momento da tragédia que se abateu sobre a região serrana do Rio de Janeiro. A dor de tantos quase nos pede silêncio. Temor de se somar a abordagem sensacionalista e oportunista de boa parte da mídia; ou de desqualificar a onda de solidariedade, legítima e necessária.
ResponderExcluirO duro aprendizado que a dor coletiva nos traz mostra a dimensão do que precisa ser repensado e reconstruído. Há sim o tema das áreas de risco; dos pontos onde a ação faz-se mais necessária e urgente. Mas a catástrofe ambiental e humana, tão previsível diante da ocupação desordenada da Serra do Mar nos lembra que nossas maiores metrópoles estão ali incrustradas, lançando sobre aquele sistema a tensão de uma ocupação cada vez mais crescente.
Assim a tragédia, aparentemente localizada, nos remete ao tema da ocupação do território nacional. Das escolhas realizadas no passado, das que estamos fazendo agora e, sobretudo, como o futuro (utopia?) nos convida a pensar modelos mais racionais e sustentáveis de ocupação.
O tema da descentralização econômica, demográfica e urbana numa escala nacional se coloca e ganha destaque entre aqueles que queremos desenvolver nas páginas do Entreposto Brasil.
Entrepostobrasil.blogspot.com