9 de jan. de 2011

Utopias para sonhar o futuro

Dilma tomou posse (01/01/2011) beneficiada pela impressionante aprovação do país ao governo Lula. Na década que começa, o Brasil encabeça o seleto clube das potências emergentes e na proa do mundo, conduz a difícil transição para uma nova ordem. Há trinta anos estamos construindo as chances dessa liderança mundial significar a implantação de políticas econômicas e sociais que resultem na produção de uma nova cultura.
Ismael Nery
Disso falou a presidenta na posse em dia chuvoso.A água, signo feminino por excelência, manifestava no ar molhado da capital um bom presságio.A nova cultura que se dissemina mundo afora como alternativa  é a maior razão da aprovação de Lula. A construção da cidadania é cada vez  mais o parâmetro para as ações e intenções.
Porém, estamos ainda muito longe de unir prática e teoria e apreensivos assistimos a ferramenta da construção desse resultado ir a pique, contaminada pelos interesses pessoais e sua rede de intrigas, corrupção, personalismos, mentiras  e  destruição que se espalham como um câncer no Partido que levou Lula ao poder. Os quase 90% de aprovação do presidente custaram caro ao PT que, desfigurado, emplaca a sucessora de Lula dominado por grandes caudilhos de velhas e novas linhagens.
Não existe mais no PT o bom combate das tendências e grupos que, ao lutarem pelo poder, funcionavam como verdadeiras artérias a conduzir o oxigênio do debate político para o interior do corpo partidário. A federação de mandatos executivos e legislativos substituiu as velhas tendências que se abrigavam no interior do Partido.
Desde a sua fundação o PT sempre foi um guarda chuva que abrigou sob sua sigla grupos surgidos nos anos de luta contra a ditadura militar. Sua principal corrente começou encabeçada por Lula e sindicalistas paulistas. Teve vários nomes: 113,  PT de Massas, Articulação. Nomes carregados de história e lideranças que se revezaram no controle da direção partidária.
Marc Chagall
Outras tendências de menor porte mantiveram sempre com o chamado campo majoritário disputas acirradas pelo controle da máquina partidária desde o início dos anos 80. Com a chegada ao poder, ou seja, com a crescente ocupação de postos no aparelho sindical e de Estado, o PT foi sofrendo uma mutação interna capaz de transformar essas tendências e correntes fundadas em idéias,  em entourage remunerada de deputados, senadores, prefeitos, governadores.
Carimbado com a pecha terrível de ser igual aos outros, o Partido envelhece com suas direções e se submete à rotina dos funcionários em redutos  controlados por figurões  detentores de mandatos ou cargos. O debate de idéias, substituído pela prática dos favorecimentos pessoais e das vantagens materiais, teve como resultado a redução da vida política a um mero ritual de cumprimento de agendas eleitorais. Manter-se no poder passou a ser o objetivo de cada chefe político e seus seguidores. 
O prejuízo evidente para a cultura política nacional escancara um desafio claro: é preciso recuperar as utopias e com elas refazer o espaço público necessário à luta pela liberdade. Um outro mundo é possível, continuaremos acreditando.

Um comentário:

  1. Concordo com você, mestra. O PT contaminou-se com a velha política e esqueceu-se de suas origens. Parabéns pela clareza das ideias.

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