No presente, talvez nossa maior utopia seja acabar com as dores produzidas pela falta material em um mundo sem direitos para a maioria, enquanto uns esbanjam os recursos de todos.
A África e o Brasil já se uniram na dor da escravidão, na fusão de culturas, crenças e modos de vida.
Hoje podem se unir na produção de conhecimentos e tecnologias que interessam tanto aos dois lados do Atlântico.
Não existe um documento de barbárie que não seja também um documento de cultura, ensinou Walter Benjamin.
Misturamos.
Além de uma educação capaz de produzir futuros técnicos para o país se desenvolver, podemos trocar estratégias interdisciplinares para melhoria da qualidade da educação, condição básica para o desenvolvimento humano.
Estamos atravessando o mar virtual e inaugurando uma rota Brasil- África. Para exorcizar os tumbeiros, navegaremos idéias, registros de experiências, trocas de saberes, sempre com o auxilio luxuoso dos nossos alunos, que serão os verdadeiros autores deste blog.
Começamos pelas disciplinas história, literatura e língua portuguesa.
Mas nossa ambição é a polifonia do saber com os recursos que pudermos, no mar da Internet. Pra plantar e produzir nova cultura, como diz o MST.
O QUE É NEAB?
Um núcleo de ensino, pesquisa e extensão que reúne professores, alunos, servidores e pessoas da comunidade interessados em realizar um trabalho no campo de estudos afro-brasileiros e africanos,
Djanira: Tres Orixas, 1966 |
O QUE QUEREMOS?
Queremos também promover ações afirmativas em favor das populações afro-descendentes e contrárias à discriminação e demais formas de intolerância.
- Conhecer e valorizar a cultura afro-brasileira .
- Conhecer e valorizar a literatura dos países africanos de língua portuguesa (Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe)
QUERO SER TAMBOR -
JOSÉ CRAVEIRINHA
Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.
Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.
Nem nada!
Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.
Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.
Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!
José Craveirinha (1922-2003) - é considerado o poeta maior de Moçambique
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