Para Rosana Clark
Rô,
De tudo ficou uma espécie de música
Um blues (backing vocal no Blues do Milharal,
arrasando Praça Sete,
Brasil, Paris, Muriaé)
Um blues tão de longe e certeiro,
marcando o compasso de tudo que sou capaz de lembrar.
Um riso, uma boca de batom vermelho como as unhas
Ah ! vestida pra matar
encantar, provocar.
E rir na cara dos trouxas,
dos embasbacados que a viam passar,
princesa talvez de algum reino remoto
ou de um provável corredor.
Encarnava sempre uma Iansã básica e
despejava raios e fúrias
contra os tiranos de plantão,
os arapongas sinistros,
os olhos que tudo vêem .
Nossa felicidade é guerreira, sabia demais...
Queria em sua homenagem
Inventar que foi uma conspiração internacional
que a fez morder a maçã envenenada
com a bactéria mortífera.
Queria transformá-la, num poema épico,
em heroína quilombola, lutando contra a tirania dos barões.
Ou talvez uma história em quadrinhos
sobre revoluções planetárias
e humanos se libertando do sofrimento da falta,
da dor, da perda, da morte.
E nós temos que contar,
pois, aprendemos que pior do que a morte
o esquecimento apaga nossos rastros
e nos condena a vagar sem rumo,
Contar para que sejam guardados os feitos.
No caso, os seus, mulher, companheira em tantos sonhos,
batalhas, risadas, aventuras na construção das mil portas de Tebas.
E assim, como quem acende uma vela e ilumina o presente
Você se vai, deixando como lição sua vontade de viver.
Seu amor pela liberdade