15 de fev. de 2010

FEVEREIRO

Transversal corta o espaço
dobrando o tempo
encurtando.

Do sonho eu chego a aurora. Quimérica
( nas chuvas as manhãs custam a chegar).
"O poeta finge que é dor".
Mas porque diabos tinha o sonho que excluir a poesia?
Para ter a sensação de avantesma.
Fantasma.

Passam os autos e os galos cantam.
Acordam vizinhos putos. Latas batem..

Tampas de comida de ontem ainda.

O relógio implacável aponta o trecho da rua
que ele pode andar com a cabeça descoberta.
Pouco, muito pouco. Logo outra forma geométrica
de concreto e trabalho cobrirá sua cabeça.
Mas andou na chuva
e aproveitou para abrir os pulmões ao seu limite
e engolir a madrugada úmida.
Sonho de homem que sonha tão pouco.
(Lembro-me de um cavalo no interior da Terra).

Batem latas. Batem sons do silêncio
no escuro da manhã.


Margareth Franklin
(publicado em Mulheres e crianças - 1995)

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