26 de fev. de 2011

Paulo Leão

Paulo Leão by Podrera  http://sociedademutuante.blogspot.com/2008/03/paulo-leo.html 

Paulo Leão já morreu faz tempo. Porém sua lembrança ainda está grudada nas paredes do Maleta, pátria do boêmio, poeta beatnik e morador de rua convicto.
Leão de olhos esbugalhados e roupa suja, a vagar de mesa em mesa, oferecendo no mercado dos diletantes de sempre sua poesia marginal. Seu Olympio ficava sério, sem cair na conversa do poeta que brincava com ele quando passava. Dormia sempre  no segundo andar, território protegido por bêbados, vagabundos, militantes políticos, artistas e toda fauna e flora que frequentava o velho Maleta.
Uma noite deixei no bolso do seu paletó, enquanto dormia, uma folha de papel na qual rabisquei uns versos a guisa da solenidade provocada por um poeta dormindo inocente nas ruas da cidade. Algo talvez como o que diz a verve sobre os que não se vendem ou entregam a alma a troco do desejo por coisas.
Dorme, poeta - devo ter dito, brincado com Mário Quintana- não há ladrões, eu lhe asseguro.
Meses, talvez anos depois, encontrei Leão e falei sobre os versos deixados enquanto dormia. Para meu espanto ele tirou o papelzinho  dobrado e encardido do bolso e me mostrou. Eu vi minha própria letra como alguém que tivesse vendo uma mensagem jogada numa garrafa no mar. Leão me devolveu cuidadoso minhas palavras que ele guardou por tanto tempo.
Soube que quando morreu escreveram poeta no atestado de óbito e não indigente, como queriam alguns.
eu poeta decadente
entrei no bar
e tomei todo o século XX
eu poeta decadente
saí do bar
tomando todo o século XX
(Paulo Leão)

25 de fev. de 2011

Clarice Lispector e Hélio Oiticica

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Presentes na 29ª Bienal de SP, versão BH, Clarice Lispector e Hélio Oiticica denunciam o Estado violência.


Mineirinho era um marginal carioca que foi morto com 13 tiros pelo Esquadrão da Morte, em 1962. A confusa relação entre polícia e bandido nesse época inaugurava os tempos do Estado de exceção que vivemos hoje em sua fase aguda de tráfico, milícias, corrupção, tropas de elite, extermínio de uma geração de jovens. A inversão de papéis foi bem compreendida por Hélio Oiticica com sua bandeira- poema, construída sobre a foto de um outro bandido famoso que também morreu na época: " Seja marginal, seja herói". Oiticica e Clarice viram e compreenderam o significado desses acontecimentos.
MINEIRINHO - CLARICE LISPECTOR (1962)
"No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim não me deixam matar, porque ter matado será a escuridão para mim.
Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me fez ouvir o primeiro tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina - porquê eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro."

Veja o TEXTO INTEGRAL :

29ª Bienal de São Paulo: versão BH

Cinthia Marcelle: "Sobre este mesmo mundo"
Fotos: Margareth

Das muitas obras presentes no espaço insuficiente do Palácio das Artes, confirmando o quanto BH ainda é provinciana e carente de arte e cultura, um trabalho chamou minha atenção. Trata-se da obra de Cinthia Marcelle, "Sobre este mesmo mundo": A paisagem desértica do pó de giz mostra o que restou das muitas inscrições feitas no quadro. Palavras, fórmulas, desenhos, rabiscos, leis, verdades, metafísicas. Tudo apagado e esquecido.Soterrado como os sonhos dos que escreveram ou leram o que ali estava.
 Pode ser também uma metáfora do trabalho pouco valorizado dos que ainda ensinam e aprendem. Seres obsoletos, desvalorizados e cada vez mais dispensáveis na era das estatísticas de produtividade, do saber quantificado, do predomínio absoluto do ctrl c+ ctrl v= verdade, das coleções de títulos e diplomas acadêmicos como sinônimo de conhecimento.
A educação na era do vazio de pensamento e do mal banalizado transformado em normalidade está bem representada pelos muitos desertos evocados na obra.   

21 de fev. de 2011

A REVOLUÇÃO PLANETÁRIA

Em dezembro de 2010, Mohammed Bonazizi, 26 anos, tunisiano, ateou fogo ao corpo em ação desesperada contra as imponentes  engrenagens que o condenavam ao desemprego e à pobreza.
Seu gesto, quase dez anos depois do 11 de setembro de 2001, desencadeou, primeiro na Tunísia e depois no mundo islâmico, uma onda de revoluções populares que tem derrubado ditadores e desmascarado regimes corruptos e autoritários. 
Tunísia, Egito, Argélia, Marrocos, Bahrein, Yemen, Líbia  viram epicentors de um terremoto político que sacode esses países  com a sonoridade dos grandes acontecimentos históricos.
 A Internet virou o novo espaço da política. A velha Ágora revela-se virtual e implacável, replicando comandos de união, mobilização solidariedade, resistência, indignação e funcionando com a eficiência da comunicação rápida e irresistível. Nunca tanta res publica...
 Sim, nós podemos, gritaram os jovens que ouviram os comandos pela Internet, desligaram o PC e foram para as ruas, ocuparam as cidades, entupiram as artérias de aço do tráfego e desmancharam no ar tudo que parecia tão sólido!!! 
Como o edifício de dez anos atrás sob o impacto dos aviões guiados por terroristas que imolaram seus frágeis e minúsculos corpos humanos, o gesto enlouquecido do jovem tunisiano em chamas incendiou regimes e derrubou ditaduras ferozes, bagunçando a geopolítica, mostrando que todos os reis  estão nús. 
Via Internet, as redes sociais se cruzaram produzindo um espetáculo de força que causou o efeito dominó no mundo árabe. A lição ecoa : internautas do mundo inteiro, uni-vos!!!
 O mundo é dos humanos, não do capital 

11 de fev. de 2011

O mundo festeja com o Egito o fim da ditadura: sim, nós podemos!!!

Da Internet para as praças, em rede de coragem, resistência e criatividade, os egípcios mostraram  que um outro mundo é possível!!