27 de jan. de 2011

ENTREPOSTO BRASIL: A REDE


Arthur Bispo do Rosário
 O Entreposto foi lugar do escambo de pequenos e grandes sonhos.
 O muro caiu. Lula perdeu. E os  anos 90 começaram com Collor, escândalos e logo depois caras pintadas e rebeldia no ar.
Com  política na alma e sonhos de uma cidade melhor, um grupo de militantes, artistas, simpatizantes, meninos de rua e anônimos em geral,  ocupou a Praça da Estação e armou um circo para conversar com a cidade sobre um novo conceito de cultura, fruto do desejo de construir uma sociedade socialista e libertária.
Essa ocupação, duramente negociada com a Prefeitura tucana da época, durou meses, até que o Entreposto, vencido por dívidas gerais de seus participantes, não resistiu, mas ajudou a vitória de Patrus Ananias, pouco tempo depois.
Principalmente legou a BH o método da arte re-ligada ao movimento. Plantada, essa semente cresceu, germinou e o circo sujo que vemos hoje no terreno consagrado aos orixás é uma ruína poderosa.
E nós ali, olhando, ou melhor, de novo conspirando.
O lançamento de um Entreposto (clique e leia mais) dia 25/02/2011, reúne novos e velhos personagens do Entreposto de 1990, armados até os dentes com a parafernália virtual para conquistar o ciberespaço e lançar de novo idéias ao vento.
Enquanto isso, os meninos da Praia da Estação festejam o sábado.
Que Oxóssi continue abrindo nossos caminhos...

PRAIA DA ESTAÇÃO : 1 ANO

O POVO, NA PRAÇA, FAZ  ARTE

Pça da Estação - BH - 24/01/2011
 Os banhistas da  Estação reatualizam  a  política,  inventam a arte dos movimentos sociais e experimentam a alegria da participação coletiva.
Como se "vestissem" uma obra de Lygia Pape, fizeram o mar de plástico  e com seus corpos, instituiram o tempo dos humanos, não do capital. A onda azul tomou conta da cidade.
Lygia Pape
http://www.flickr.com/photos/coletivopegada/sets/72157625756883495/
http://www.youtube.com/watch?v=t1ivbE0X0Wc&feature=related 

24 de jan. de 2011

!922: Clarice Lispector

No ano de 1922  nasceu a brasileira Clarice Lispector. Ela já havia nascido antes, em algum lugar da  Ucrânia, no ano de 5680 do calendário judeu seguido por seus pais, que lhe chamaram de Haia, ou Verdade.
O seu Novo Mundo foi Maceió e depois Recife.
A experiência de nascer refugiada, apátrida, sua família em fuga devido às perseguições aos judeus, com certeza deixou marcas na sua escrita e em suas  personagens, vivendo em permanente trânsito entre o mundo real e a sua subjetividade. .
Por isso, talvez, o sentimento de pertencer tenha sido tão intenso para ela, como declara nessa crônica:

Pertencer

(...) Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
(...) Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força – eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
(...) A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho!

22 de jan. de 2011

BIENAIS

A presença em BH de trabalhos consagrados nas bienais de São Paulo traz uma oportunidade de acesso do grande público a obras e artistas fundamentais . Traz também a certeza do tanto que já perdemos  ...

17 de jan. de 2011

BH: DORMINDO COM O INIMIGO

Temos denunciado neste blog os sucessivos atos de descaso e descompromisso da atual Administração Municipal com a cidade de Belo Horizonte  O último foi demais: a queda de uma árvore gigantesca no Parque Municipal matou uma mulher que fazia caminhada e interditou o único espaço verde do centro da cidade por 3 meses. Em meio às férias, nossa cidade tão sem alternativa perde seu principal espaço de lazer. A negligência no cuidado com o Parque precisou de uma vida para ser corrigida. Mas sem planejamento, isso será feito no período em que a cidade mais precisa do Parque.
Fala Sério!!!
Guignard - Parque Municipal de BH

16 de jan. de 2011

PARAFRASEANDO RAUL SEIXAS

Tragédia: a nova cara do verão

Essa é a época das tragédias como opresença obrigatória em sucessivos verões. Katrinas, terremotos, tsunamis, enchentes e secas são transformados no assunto principal da estação. A natureza  responde à altura todo o descaso sofrido e, na versão possível da profecia Maia, a época da sua vitória sobre a cultura parece estar se aproximando.
Dois outros profetas já haviam previsto esses acontecimentos: Karl Marx, nos idos do século XIX, afirmou que o fim do capitalismo só seria possível por suas próprias contradições. De fato, o desenvolvimento desordenado das chamadas forças produtivas,  da ciência e da técnica, mudaram a cultura. Separados da natureza, nossa vida se fundamenta no consumo dos seus recursos. A civilização que construímos está assentada na satisfação de necessidades cada vez mais inventadas e egoístas, alimentadas pelas possibilidades infinitas oferecidas pelo capital que desse círculo se alimenta e se reproduz.
Sabemos que o conceito de desenvolvimento sustentável foi pensado para tentar equilibrar e potencializar o uso dos recursos numa lógica fundada na preservação e proteção do meio ambiente. Mas isso está longe de deixar de ser apenas uma idéia e virar prática.
As conseqüências da ocupação predadora e desordenada do mundo têm produzido os graves problemas ambientais que vivemos e suas seqüelas. A fúria do clima é uma delas. Pode ser que a destruição do capital custe a civilização que construiu, movimento autofágico que explica bem as guerras, violência, pobreza e outros males sem fim que sempre existiram ao longo do seu domínio. 
Até agora  a noção arrogante que passamos, nós, os conscientes ambientais, é a de que é preciso salvar o planeta. Mas o planeta não precisa ser salvo. Quem precisa perceber a destruição são os humanos, vulneráveis a ela. O que existe  e continuará existindo é o planeta,  pois é imune ao tempo. Uma era não significa nada, quanto mais um ano ou cem.
Isso nos remete ao poeta e profeta Raul Seixas: “o planeta como um cachorro eu vejo: se ele não agüenta mais as pulgas, se livra delas num sacolejo”.

Utopias para sonhar o futuro

Dilma tomou posse (01/01/2011) beneficiada pela impressionante aprovação do país ao governo Lula. Na década que começa, o Brasil encabeça o seleto clube das potências emergentes e na proa do mundo, conduz a difícil transição para uma nova ordem. Há trinta anos estamos construindo as chances dessa liderança mundial significar a implantação de políticas econômicas e sociais que resultem na produção de uma nova cultura.
Ismael Nery
Disso falou a presidenta na posse em dia chuvoso.A água, signo feminino por excelência, manifestava no ar molhado da capital um bom presságio.A nova cultura que se dissemina mundo afora como alternativa  é a maior razão da aprovação de Lula. A construção da cidadania é cada vez  mais o parâmetro para as ações e intenções.
Porém, estamos ainda muito longe de unir prática e teoria e apreensivos assistimos a ferramenta da construção desse resultado ir a pique, contaminada pelos interesses pessoais e sua rede de intrigas, corrupção, personalismos, mentiras  e  destruição que se espalham como um câncer no Partido que levou Lula ao poder. Os quase 90% de aprovação do presidente custaram caro ao PT que, desfigurado, emplaca a sucessora de Lula dominado por grandes caudilhos de velhas e novas linhagens.
Não existe mais no PT o bom combate das tendências e grupos que, ao lutarem pelo poder, funcionavam como verdadeiras artérias a conduzir o oxigênio do debate político para o interior do corpo partidário. A federação de mandatos executivos e legislativos substituiu as velhas tendências que se abrigavam no interior do Partido.
Desde a sua fundação o PT sempre foi um guarda chuva que abrigou sob sua sigla grupos surgidos nos anos de luta contra a ditadura militar. Sua principal corrente começou encabeçada por Lula e sindicalistas paulistas. Teve vários nomes: 113,  PT de Massas, Articulação. Nomes carregados de história e lideranças que se revezaram no controle da direção partidária.
Marc Chagall
Outras tendências de menor porte mantiveram sempre com o chamado campo majoritário disputas acirradas pelo controle da máquina partidária desde o início dos anos 80. Com a chegada ao poder, ou seja, com a crescente ocupação de postos no aparelho sindical e de Estado, o PT foi sofrendo uma mutação interna capaz de transformar essas tendências e correntes fundadas em idéias,  em entourage remunerada de deputados, senadores, prefeitos, governadores.
Carimbado com a pecha terrível de ser igual aos outros, o Partido envelhece com suas direções e se submete à rotina dos funcionários em redutos  controlados por figurões  detentores de mandatos ou cargos. O debate de idéias, substituído pela prática dos favorecimentos pessoais e das vantagens materiais, teve como resultado a redução da vida política a um mero ritual de cumprimento de agendas eleitorais. Manter-se no poder passou a ser o objetivo de cada chefe político e seus seguidores. 
O prejuízo evidente para a cultura política nacional escancara um desafio claro: é preciso recuperar as utopias e com elas refazer o espaço público necessário à luta pela liberdade. Um outro mundo é possível, continuaremos acreditando.