29 de nov. de 2010

Território: A força militar superior permite ao Estado comemorar hoje a tomada do Complexo do Alemão e  seus amontoados 400 mil habitantes respiram o cessar fogo e um suposto reingresso à cidadania plena como brasileiros, depois de décadas de comando do tráfico sobre a comunidade. No labirinto de barracos, o território, ou seja, “o chão mais a identidade”(Milton Santos, 1999) está marcado pelo trauma da guerra e das muitas mortes, pela descrença generalizada nas promessas dos governos, pela violência cotidiana.que faz a vida ter tão pouca perspectiva. 
"existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e covardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto." (Castro Alves- Navio Negreiro)

26 de nov. de 2010

Salve Geral - Rio 2010

(Foto: FSP)
 A guerra  explode o limite tênue entre as duas cidade e mostra as suas armas sem metafísica.
Civis são galinhas correndo desgovernadas  das balas perdidas. No morro, os meninos bandidos são heróis eviesados de uma nação de pobres, feios, sujos e malvados. Estão armados e despejam balas defendendo com seus corpos a satisfação da burguesia entediada que busca na droga o prazer difícil em sua vidas repetidas e cheias de hipócrita normalidade.
Tiros de fuzil desenham nos barracos a escrita deste outro Canudos. No latifúndio da mídia, o furor repressivo não é explicado como uma política dura antes dos mega eventos internacionais tipo copa do mundo, legitimada pelas últimas eleições. Pacificação, um  eufemismo.
A polícia mais mal falada do país é o braço armado do governador para fazer o mal de uma vez só, ajudado pelas armas de guerra da Nação bestializada. E a ordem é deitar fogo contra as cidadelas do tráfico, os barracos de muitos no meio, enquanto os soldados de um exército de jovens que foram entregues ao vício e ao crime  pela insana razão de estado de considerar a droga um problema da polícia e não do usuário, morrem estupidamente. O próprio Estado promove essa situação absurda de guerra urbana motivada pela criminalização da droga que gera o tráfico de drogas, o mal . E o tráfico de armas, subproduto indesejável e lucrativo. 
Os verdadeiros responsáveis pela tragédia legitimada pelos votos e executada com o dinheiro do contribuinte, refestelam-se longe dos morros como sempre. Promovem a proibição e a ideologia da droga que alimenta o conflito sangrento que acontece no Rio. Negociam os novos pontos de distribuição na cidade que substituirão as áreas "pacificadas" nos próximos anos. Votam por mais verbas para armas  nos orçamentos públicos com a mesma desfaçatez que exibem manifestos pela paz.


12 de nov. de 2010

Domingo solar. Mantiquieira lá fora e no rádio do carro a canção original, com Bob Dylan . Jogo de espelhos, poesia e mundo  imenso. Foi o domingo, ficou a memória que caiu aqui com a gravidade  da música. Versão mais clássica que a original. Gal Costa, a intérprete definitiva.

Negro Amor (It's All Over Now, Baby Blue)

Composição: Bob Dylan / Versão Péricles Cavalcante e Caetano Veloso
Artigo de minha autoria publicado na RevLet, da UFG

 CLARICE LISPECTOR E OS INTELECTUAIS NO ESTADO NOVO
Margareth Cordeiro Franklin
 

RESUMO: Este trabalho pretende refletir sobre os primeiros anos da trajetória literária da escritora Clarice Lispector (1939-1945). No contexto internacional são anos da Segunda Guerra e no Brasil, do regime ditatorial instaurado por Getúlio Vargas, o Estado Novo. Tal período não foi marcante apenas para nossa história política, social ou econômica, mas principalmente para uma história dos intelectuais, pois o esforço para diluir as diferenças entre os homens de letras e os políticos tornou-se objetivo do governo que soube acolher,
amparar e principalmente utilizar os diferentes graus de compromissos mantidos por artistas e intelectuais com o regime. Acompanhando o percurso da jovem Clarice Lispector pode-se compreender porque seu primeiro romance foi considerado diferente do que se fazia então e ela consagrou-se posteriormente como um dos mais importantes nomes da literatura brasileira.

LEIA MAIS:

http://revistas.jatai.ufg.br/index.php/revlet/issue/current

2 de nov. de 2010

Mario de Andrade

Eu Sou Trezentos...

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.