21 de fev. de 2010


 Sobre Matisse, escreveu Giulio Argan:
" Matisse viveu duas guerras; como todos com elas sofreu; mas não permitiu que se revelasse na pintura uma ponta sequer da dor do mundo. Se o mundo em suas crises de loucura destrói os valores da civilização, o sábio deve criar e acumular outros  valores: a humanidade irá utilizá-los para se recuperar dos golpes da história. A arte conserva ou restabelece nos homens a alegria de viver."(1993, p.343 )

15 de fev. de 2010

FEVEREIRO

Transversal corta o espaço
dobrando o tempo
encurtando.

Do sonho eu chego a aurora. Quimérica
( nas chuvas as manhãs custam a chegar).
"O poeta finge que é dor".
Mas porque diabos tinha o sonho que excluir a poesia?
Para ter a sensação de avantesma.
Fantasma.

Passam os autos e os galos cantam.
Acordam vizinhos putos. Latas batem..

Tampas de comida de ontem ainda.

O relógio implacável aponta o trecho da rua
que ele pode andar com a cabeça descoberta.
Pouco, muito pouco. Logo outra forma geométrica
de concreto e trabalho cobrirá sua cabeça.
Mas andou na chuva
e aproveitou para abrir os pulmões ao seu limite
e engolir a madrugada úmida.
Sonho de homem que sonha tão pouco.
(Lembro-me de um cavalo no interior da Terra).

Batem latas. Batem sons do silêncio
no escuro da manhã.


Margareth Franklin
(publicado em Mulheres e crianças - 1995)

13 de fev. de 2010




Desobediencia Civil
  A desobediencia civil é uma forma extrema de expressão política que, ao se manifestar por meio da associação, fala a linguagem da persuasão, resgata a faculdade de agir, gera poder pela ação conjunta de muitos e se coloca na esfera do interesse público. A desobediência civil é legítima e pode ser bem sucedida na resistência à opressão. Sua principal força é  a natureza pacífica de sua ocorrência , a não violência como método de ação. Como a arte que escorre das revoluções...
Foi o que conduziu Ghandi, na Índia e as passeatas e greves que fizemos no fim do período da ditadura militar no Brasil. Foi também o caso da luta contra a segregação racial, além da resistência à guerra do Vietnã, nos EUA. Nesses casos, a desobediência civil foi a expressão de um empenho político coletivo na resistência à opressão, não se constituindo como rejeição da obrigação política, mas a sua reafirmação.
 A desobediência civil é importante nos estados de anomia, ou seja, na ausência ou descumprimento generalizado das leis, pois significa resistência aos atos prejudiciais à dignidade da pessoa humana. Caracteriza-se por ser uma forma de protesto praticada por maiorias interessadas em modificar determinada realidade social e esgotados todos os meios legais de negociação. Objetiva chamar a atenção da opinião púbica para o problema, buscando solução através da modificação de leis ou da maneira como determinada política pública está caminhando. Assume, assim, a forma de chamar a atenção para um grupo de pessoas, definido este número em “significativos”, cujas queixas não surtirão efeito pelas vias legais, ou então quando o governo está na iminência de praticar algum ato injusto que irá prejudicar aquele grupo, sendo este ato, em tese, opressor de algum direito fundamental.
No método apreendido dos grandes movimentos dos anos 80 no Brasil, a alegria  foi a cor primária  usada em todas as suas nuances. “O povo, às claras quer a gema. A alegria é a prova dos nove", brincou mestre Florestan Fernandes no distante 1983, explicando a opção pela cor amarela das Diretas  já, o maior movimento brasileiro de todos os tempos e chave que abriu a porta da República ao chamado povo, além de matriz da Era Lula. 
            A alegria marcou os anos de 1980 para além do simples desbunde, pois, finalmente as questões do mundo privado romperam os laços de família e se tornaram objeto da política.O alcance da felicidade pública, aquela que sentimos participando do cotidiano político,  manifestando e  reivindicando direitos, criando novos direitos ou varrendo o entulho autoritário, como se dizia então, para longe do presente,  conferiu uma longa duração aos acontecidos naqueles anos e isso nos desembarcou no presente.
            A alegria continua sendo a prova dos nove.

11 de fev. de 2010



 Conheço mulheres e homens que
por razões diversa ou gosto de paixão
seriam capazes de deixar rosas vermelhas
nas mãos de bronze de Drummond e Pedro Nava
plantadas à sombra do velho Métropole,
fantasma que se diverte com a cena.
A visão das rosas frescas e vermelhas
 e eles conversando lá atrás.
No tempo em que eram jovens demais
para saber que ainda virariam estátuas.
 O instante aberto entre o espaço e o tempo
a imaginação, o sexto e mais forte dos sentidos
e lá estavam os dois jovens, a subir a Rua da Bahia.

Vitrais, pardais, azul do céu e dourados em esquinas.
O vento guia o cheiro das rosas em direção ao presente.